Na minha caminhada matinal, deparei pela
primeira vez com os caramujos, chamados Achatina fulica, podem transmitir
doenças para os seres humanos.
A preocupação maior, o
terreno de onde estão saindo é perto de duas escolas – EE “Perofª Clotilde
Belini Capitani”; EMEF “Profº Antônio Vicente Bernardi”.
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R. Lourenço Antônio de Mello - Rio Acima - Votorantim Foto: 02 de março de 2016 |
O molusco é um animal hermafrodita e possui uma
alta taxa reprodutiva.
É necessário aviso aos moradores para conter a
infestação e evitar que alguma criança venha a brincar com o molusco e se
infectarem.
Chegada
ao Brasil
Conforme a bióloga e professora do curso de
Ciências Biológicas da UFSCar Sorocaba, Eliane Pintor de Arruda Moraes, há três
momentos em que o caramujo africano foi trazido ao Brasil, sendo em 1989 no
Paraná, entre 1996 e 1998 em São Paulo, e em 1975 em Minas Gerais. Segundo ela,
o animal foi trazido ao país com o objetivo de ser vendido para o consumo
humano, uma vez que é consumindo na África e possui vantagens nutricionais por
ser rico em proteínas. "O brasileiro não tem hábito de consumir este tipo
de alimento e a demanda não ocorreu. Então, os criadores soltaram os moluscos
inadvertidamente na natureza", conta.
Segundo Eliane, o Brasil vive uma fase
explosiva da invasão de Achatina fulica, estando presente em 24 dos 26 Estados
brasileiros e no Distrito Federal, não havendo registros desse caramujo apenas
no Acre e no Amapá. "O Achatina fulica é um animal hermafrodita e possui
uma alta taxa reprodutiva, sendo que um indivíduo pode depositar em média de
200 a 400 ovos por postura, podendo se reproduzir mais de uma vez por ano. O
caramujo é mais eficiente na competição com outros animais, e praticamente não
têm predadores no Brasil", destaca.
Segundo ela, existem duas zoonoses que podem
ser transmitidas pelo caramujo africano. Uma delas é a meningite eosinofílica,
causada pelo nematódeo Angiostrogylus cantonesis, que pode ter o caramujo
africano como um dos seus hospedeiros. Já a outra, é a angiostrongilíase
abdominal, causada pelo nematódeo Angiostrogylus.
Como
conter a infestação
A Divisão de Zoonoses da Secretaria da Saúde de
Sorocaba (SES) informou, em nota, que com a entrada dos meses quentes, que
coincide com aumento das chuvas, há o favorecimento das condições de
sobrevivência desse animal, pois aumenta a oferta de abrigo e alimento aos
mesmos. A bióloga diz que para conter a proliferação dos caramujos africanos é
importante o apoio da população. "É preciso manter os quintais e terrenos
limpos, pois são nesses locais que os caramujos se escondem", aponta.
A Zoonoses recomenda que a população realize o
controle mecânico, coletando todos os caramujos que conseguir. Os animais devem
ser depositados em dois sacos de lixo (um dentro do outro), amarrados, com
bastante sal dentro para matar os caramujos. Após duas horas, os sacos devem
ser colocado na coleta de lixo. A coleta manual deve ser feita frequentemente,
até eliminar a infestação do local.
Para que haja maior eliminação, a bióloga
Eliane Moraes diz que o procedimento de catação deve ser realizado nas
primeiras horas da manhã ou no início da noite. "Nesses horários os
caramujos estão mais ativos e é possível coletar a maior quantidade. Além de
coletar os animais, deve-se também coletar os ovos, que têm o tamanho de uma
semente de mamão, são branco-amarelados e ficam semienterrados", explica.
O descarte dos moluscos pode ser feito de
outras formas, diz. "Os animais devem ser incinerados ou enterrados. No
segundo processo é preciso que os caramujos sejam esmagados (quebrando as
conchas) para depois serem despejados em buracos, colocando uma pá de cal
virgem sobre os animais."
A especialista recomenda que a coleta seja
realizada com objetos de proteção, como luvas ou sacos plásticos, pois os
moluscos podem transmitir doenças aos seres humanos. "O risco de
transmissão dessas duas doenças pelo caramujo africano é baixo, mas pode
ocorrer através da sua ingestão ou através da ingestão de verduras e hortaliças
sujas com o muco do caramujo", afirma.
Portanto, a Zoonoses recomenda que os alimentos
que entraram em contato com caramujos devem ser descartados. Já alimentos como
frutas, legumes e verduras, que podem ter entrado em contato com os caramujos,
devem ser bem lavados e desinfetados com solução de água sanitária, colocando
de molho por 30 minutos (uma colher de sopa de água sanitária para cada litro
de água).
A Zoonoses também recomenda que a população não
jogue sal nos caramujos em ambientes livres, pois além de contaminar o solo, as
conchas sobrarão no ambiente e se encherão de água de chuva, provocando
proliferação do mosquito Aedes aegypti. Os caramujos vivos (sem o sal) não
devem ser colocados para a coleta, pois eles romperão a sacola plástica e
retornarão ao terreno ou imóvel. (Supervisão: Daniela Jacinto).